☕ Café com Satoshi #60: Como a Gisele Caiu num Ponzi de U$ 10 Bilhões ☠️
Na terça da semana passada, o dono da Binance (Changpeng Zhao - o CZ) recebeu a chamada mais inesperada da vida. Era Sam Bankman-Fried (SBF), o dono da FTX, sua maior concorrente. Não se falavam há anos. O velho amigo estava desespereado.
Você já sabe o resultado dessa chamada. SBF, falido, ofereceu seu império em troca de um resgate financeiro. CZ fez drama… e recusou a oferta. A FTX revelou um rombo de U$10 bilhões no seu balanço, e pediu concordata.
Aqui vão as coisas que você AINDA não leu por aí 👇
🧨 Como, Afinal, a FTX Ruiu?
SBF sempre jurou que a Alameda, seu fundo, e a FTX, sua corretora, eram entidades separadas. Mas eram mais íntimas que pele e unha.
É importante entender a sinergia. A FTX oferecia alavancagem altíssima. Quanto mais alavancagem, mais liquidações a corretora gera. Se a Alameda tinha visibilidade sobre ordens de clientes, saberia exatamente onde cada um seria liquidado, e poderia tradar contra - “caçando os stops" que lhe fossem mais lucrativos.
Dizem os fundadores do fundo 3ArrowsCapital que quebraram desse jeito.
Além de fazer isso, a Alameda ainda monopolizava o programa de “Backstop Liquidity Provision” da FTX. Toda posição que entrasse em liquidação forçosa seria zerada pelo fundo, em troca de um percentual da margem do cliente.
Em um bull market, isso é uma máquina de fazer dinheiro. Mas durante eventos cataclísmicos, pode sair de controle.
Quando a LUNA implodiu, em maio, bilhões de dólares foram liquidados nas maiores corretoras do mercado. Na FTX, a Alameda se viu obrigada a engolir uma tonelada de LUNA de traders sendo zerados. Mas esses tokens não podiam ser arbitrados ou repassados em outro lugar - foram literalmente a zero. Um buraco de 8-9 dígitos nasceu aí.
O mercado de crédito contraiu dramaticamente depois da implosão da LUNA. Vários credores quebraram porque não auditaram direito o risco de suas contrapartes (Voyager, BlockFi, etc). Dívidas pendentes foram cobradas.
No dia 25 de maio, a FTX imprimiu inadvertidamente U$ 56 M em SRM (uma outra moeda do círculo de influência do SBF). Provavelmente em um de vários movimentos arquitetados pra inflar artificialmente o balanço da corretora. SRM era sua segunda maior posição ilíquida depois do FTT - mais de 2 bilhões de dólares.
Em 28 de setembro, com a crise já agravada, a FTX mandou mais de U$ 4 bilhões em FTT pra Alameda. SBF disse no Twitter que “a corretora estava movimentando saldos internamente”.
Em retrospecto, foi um movimento desesperado para manter o castelo de cartas de pé.
🇧🇸 Uma Grande Suruba nas Bahamas
Michael Lewis, autor do “The Big Short”, passou os últimos 6 meses viajando com SBF pra escrever um livro sobre ele. “Uma história na intersecção de Flash Boys, O Big Short e Liar's Poker”.
O capítulo final foi escrito na semana passada. A obra deve focar na rivalidade entre SBF e CZ (“Skywalker vs. Darth Vader”, nas palavras de Lewis). E vai revelar o uso indiscriminado de anfetaminas, romances poliamorosos entre os executivos da empresa, a vizinhança com um magnata abusador sexual, e outros detalhes picantes.
Nosso boletim pra assinantes Pro, que sai na tarde de hoje, vai fundo nessas histórias bizarras. E revela qual era o fetiche secreto da CEO do fundo Alameda. Se quiser receber ele toda semana, assine aqui.
SBF se formou no MIT. Foi trader na Jane Street. E saiu de lá pra fundar a Alameda, em 2017. A firma cresceu com capital próprio arbitrando diferenças de preço entre Japão/Coréia e corretoras do Ocidente.
Foi erguida por um grupo de colegas do “Altruísmo Eficaz", que se fraturou em 2018. Descontentes com manobras de SBF para manter o controle da empresa, boa parte dos sócios originais tiveram suas partes compradas, e caíram fora.
Uma destas sócias fundadoras é Tara MacAuley, que já presidiu o centro do Altruísmo Eficaz. Ela perdeu U$ 81 milhões na quebra da Celsius.
A Alameda tinha um patrimônio de 7 dígitos e foi caçar mais capital no mercado. Em 2018, patrocinou eventos da Binance e distribuiu panfletos buscando U$200M, garantindo 15% ao ano de retorno.
A FTX foi fundada no ano seguinte. Talvez tenha sido pensada originalmente como uma avenida para acessar capital. SBF já se disse frustrado em entrevistas com a dificuldade que teve pra levantar grana em 2018.
Em menos de 6 meses, a FTX captou U$70M da Binance. SBF estava sedento por capital, mas esse negócio foi seu calcanhar de Aquiles, no fim das contas. Ao “manter o inimigo próximo", CZ guardava munição para um ataque fatal que desferiria anos à frente.
Veio o “Verão de DeFi”, e a Alameda viu que seus 15% ao ano eram pífios perto do que as moedas de cachorro e farms de legumes estavam fazendo. O mercado também ficara mais competitivo no lado da arbitragem. Os verdadeiros profissionais tinham chegado. A Alameda abandonou sua vocação, e passou a fazer apostas direcionais.
Comprou SOL barato, e ganhou toneladas de dinheiro. Investiu em moedas minúsculas, com “baixo float”, do ecossistema da Solana, e viu retornos rápidos de dezenas de vezes.
Então começou a replicar o playbook, e imprimir seus próprios dinheiros.
Além do FTT, criou o SRM, o OXY, o MAPS e o FIDA. Esses tokens representavam bilhões no balanço da FTX quando ela pediu concordata. A corretora tinha aceitado esses tokens como garantia, e emprestado fundos de clientes da FTX para a Alameda. Isso é um jeito financês de dizer que roubaram o dinheiro do usuário pra dar pro fundo.
Quando os clientes correram pra sacar dinheiro da corretora, o buraco veio à tona.
Os bilhões de dólares que a corretora devia a usuários tinham sido gastos em trades mal sucedidos, um contrato de 19 anos (U$ 135 M) com o estádio do Miami Heat, U$ 210 M pra patrocinar o TSM por 10 anos, U$40M pra candidatos democratas em 2022, e outras cositas más.
Dadas as motivações políticas em jogo, o rastro dessa grana vai demorar anos pra ser descoberto.
🤗 O Que Diabos é “Altruísmo Eficaz”?
A palestra mais marcante que SBF assistiu na faculdade foi a de William MacAskill. Este cunhou uma filosofia que prescreve o seguinte: o mais moral a se fazer é ganhar o máximo possível de dinheiro, e doar ele para causas que impactem positivamente a qualidade da vida na Terra.
O Altruísmo Eficaz fez escola no Vale do Silício: Dustin Moskovitz (co-fundador do Facebook), Elon Musk e até Vitalik Buterin simpatizam com a ideia.
Trata-se de uma filosofia utilitarista e hiper racional. Uma das maiores críticas contra ela é a de que sustenta o pensamento de que “os fins justificam os meios”. A de que pode ser usada pra moralmente suportar pessoas maquiavélicas em busca de fortuna.
“Se um bilhão de dólares podem salvar a vida de X pessoas quando investidos na prevenção da Malária, que mal faria tomar esse dinheiro de especuladores degenerados para dar para os pobres"?
O Altruísmo Eficaz não era um adereço cosmético no império de SBF. A Alameda foi literalmente fundada em torno desse princípio. Um grupo de amigos do AE largando uma carreira em Wall St. pra explicitamente fazer o máximo de dinheiro na selva das criptomoedas.
Os riscos que a Alameda/FTX tomaram foram estratosféricos. Mas suponhamos que, em 1 dentre 1000 universos possíveis, a FTX se tornou “grande demais pra falhar” e varreu os problemas pra baixo do tapete. Se, nesse universo, SBF criou mais “impacto positivo” que nos outros todos… dá pra dizer que o risco tinha um “valor esperado” de 10x.
Pro azar dos clientes da FTX, o destino que se materializou não foi exatamente esse.
🌾 Seria SBF uma “Planta” dos Democratas?
SBF foi o 2º maior doador da campanha do Biden, atrás do Bloomberg.
O pai dele já esboçou propostas fiscais pra senadora Elizabeth Warren.
A mãe dele tem um PAC ("Mind the Gap”) que levanta fundos pra democratas.
O ex-sogro foi chefe do Gary Gensler (xerife da SEC) na faculdade de economia do MIT.
SBF investiu milhões em veículos de mídia.
Os próximos meses vão ser bastante reveladores. Os reguladores anseiam por exemplos com o quais podem crucificar a indústria das criptomoedas. Se SBF não for indiciado rápido, e preso, saberemos que U$40M em doações políticas já bastam pra comprar imunidade na terra do Tio Sam.
🎲 Qual é o Próximo Dominó a Cair?
O colapso da FTX pode ser sido o fim de uma reação em cadeia iniciada com a LUNA… ou pode ser o começo de outra.
No boletim que sai hoje de tarde pra assinantes Paradigma Pro, nós especulamos sobre entidades que podem estar em risco, e damos algumas ideias de shorts. Também desenhamos uma linha do tempo dessa história maluca e explicamos melhor as suspeitas sobre orgias na ponzi-lândia das Bahamas.
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🧠 Dicas de Leitura
🌶️ What Happened At Alameda Research (Milky Eggs)
Uma recoleção detalhada de como a Alameda deixou de ser uma firma lucrativa de market making para se tornar um grande ponzi degenerado.
🧙♂️ The Reluctant Prophet of Effective Altruism (The New Yorker)
Um perfil bem escrito pra entender o cara que enfeitiçou os maiores titãs do mundo do negócios com sua filosofia.
😔 SBF, Extreme risk-taking, Expected value, and Effective altruism (Effective Altruism Forum)
A comunidade do Altruísmo Eficaz juntando os cacos e discutindo o que fazer a seguir, depois de queimar seu maior doador e mais famoso representante.
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