☕ Café com Satoshi #45: Essa Pedra Desenhada no Paint foi Vendida por 7 Milhões ⛳
As pessoas estão gastando fortunas em JPEGs. O OpenSea é o contrato que mais consome gas na Ethereum. O marketplace de NFTs girou 1 bilhão em 30 dias.
Mike Tyson veste um Cool Cat no seu avatar. A VISA comprou um CryptoPunk. Bored Apes são ostentados por DJs famosos, e Pengus são pauta da New Yorker. Uma pedra chamada EtherRock foi vendida por R$7 milhões.
Se você não conhece estes nomes, tratam-se de tokens não fungíveis (NFTs) famosos.
Não se preocupe, você não está só em se pergunta: o que diabos está acontecendo?
🤬 Sua descrença faz parte da história
A sua descrença faz parte do que constitui o valor de um flex. Um flex, no bom português, é uma ostentação.
O dispêndio desproporcional de energia (geralmente, na forma de dinheiro) em uma atividade improdutiva, com fins ritualísticos relacionados ao acasalamento.
🦚 Um flex para um pavão é gastar calorias abrindo e fechando a cauda numa dança inútil para atrair o sexo oposto. Um flex para um humano é desfilar uma Louis Vuitton. Gastar 20 mil numa balada. Comprar um CryptoPunk de 200 mil dólares.
Você pode falar que o objeto do gasto não vale nada, mas certamente vale para quem o compra/consome, assim como para outros que venham a fazê-lo no futuro.
A charge abaixo ilustra a resiliência memética desse tipo de fenômeno. Muitos incompreendem o valor dos NFTs. Uma piada famosa é a do “posso salvar essa imagem com um clique, compartilhar e não pagar nada”. Pois cada vez que o detrator fizer isso, mais o NFT se valoriza, e aprecia o título (token) que só o dono verdadeiro consegue revender.
🎭 Cultura Investível
NFTs permitem a meros mortais apostarem em cultura. Serem “investidores anjos” dos artistas em que acreditam. Monetizarem o seu senso de moda. Ganharem dinheiro - e não só o direito de zombar colegas - por estarem certos em seus instintos fashionistas.
A novela da GameStop simbolizou a emergente força popular frente às elites financeiras. Munidos de memes, fóruns de internet se posicionaram contra grandes baleias, e subverteram a ordem em Wall Street - squeezando vendedores de uma ação em particular e levando os preços dela à lua.
Assim como ações foram memetizadas, memes também estão sendo financeirizados.
A foto original do meme do Doge foi vendida por 4 milhões de dólares. Uma outra foto, original mas menos conhecida, foi comprada por 43 mil dólares em junho, fracionalizada em agosto, e atingiu um market cap de 110 milhões de dólares. Qual é o premium de um meme que pode ser possuído, de fato, por uma comunidade?
⛳ O Clube de Campo do Século XXI
O metaverso não está nascendo nas salas de reunião virtuais do Facebook, mas em servidores de Discord e dApps que incorporam em suas dinâmicas a verdade da blockchain.
Collab.land bloqueia salas exceto para quem comprovadamente um certo NFT. Múltiplas carteiras já mostram NFTs com a mesma ou até maior proeminência que moedas em si. Quanto tempo até que sugiram perfis com gostos parecidos?
Possuir uma meia da UniSocks te dá o reconhecimento de alguns titãs do Vale do Silício. Ser dono de AutoGlyph te coloca em um grupo seleto com fundadores de unicórnios e pioneiros da cripto-arte. Portar um alien Punk te garante uma linha direta com qualquer galerista de arte contemporânea do planeta.
Em um mundo de afiliações verificáveis e públicas, qualquer um pode construir serviços sobre os gráficos sociais que vivem na blockchain. Um airdrop especificamente mirando donos de CryptoPunks. Um NFT do tipo “insígnia de honra” somente para desenvolvedores que já fizeram deploy de algum contrato na Ethereum. Uma “consolação” para endereços que foram vítimas de um determinado hack. Todos estes artifícios, e muitos outros, estão sendo usados para semear e comunidades.
Não importa a plataforma em que se desenvolvam e prosperem, a identidade dos seus participantes segue pertencendo a eles - e não a plataforma. Isso os torna imunes a qualquer cancelamento ou banimento.
Os preços astronômicos de alguns avatares assustam. O ask mais baixo para um Punk hoje é ~U$234k. Para um Bored Ape, U$120k. Para um Pudgy Penguim, U$10k.
Mas, sinceramente, com os clubes fechados, as festas pausadas, viagens interrompidas e rituais de acasalamento tradicionais sendo fortemente desencorajados… o quê você esperava que a nova geração de cripto-milionários fizesse com seu dinheiro?
🕵️ Identidades Pseudônimas
Anon é o nome dado a personagens com identidade desconhecida na internet.
Vincent Van Dough, Keyboard Monkey, Beanie e Peruggia são alguns anons influentes na cripto-arte. Passear pelas suas carteiras na blockchain é um deleite. Oferecem um vislumbre sobre como a reputação será construída no futuro.
VVD transforma em ouro quase tudo que toca. KM comprou um zombie punk por U$1M e vendeu por U$2M no dia seguinte. Beanie co-fundou uma franquia de quadrinhos que dá vida aos Punks que coleciona. Todos estes feitos estão escritos na Ethereum, e são indissociáveis da identidade dos seus executores.
Peruggia é um caso especial. Pagou U$7.6M por um CryptoPunk alien (só existem 9) fumando cachimbo. O vendedor foi Dylan Field, CEO da Figma, que deu um depoimento emocionado sobre como acreditava estar se separando de uma obra prima. Na história da arte, Vicenzo Peruggia foi o ladrão que roubou a Mona Lisa, num imbróglio que a tirou do Louvre por décadas e a catapultou à fama.
Quando Peruggia compra uma peça de um novo artista, ele faz parte da história dessa peça, e agrega valor à coleção. Assim como significa muito para um artista contemporâneo entrar na coleção particular de um Gagosian, Steve Cohen ou Charles Saatchi.
Muitos pintaram um futuro populado por celebridades em 3D, como Lil Miqueila. Talvez o foco se volte menos para a imagem, e mais para a provenança. Vídeos hiper-reais são sujeitos a deep fakes; a blockchain é infraudável. NFTs são identidades sem plataforma. Avatares que nenhum Instagram, Twitter ou país podem te banir de usar.
E, num cenário cada vez mais tomado por multidões sensíveis e a ameaça do cancelamento, tem disparado o valor e a atenção dados a "passaportes digitais” portáteis, verificáveis e invioláveis.
🧬 Arte Generativa e Outros Buracos de Minhoca
Coleções de avatares na blockchain são a ponta do iceberg. Uma vez apreendida a dinâmica que as cerca, o próximo passo é desbravar os efeitos de segunda ordem. Para onde o dinheiro flui a seguir? Quais aplicações da tecnologia prosperarão a longo prazo?
O mercado de arte é um dos mais evidentemente em rota de disrupção. Trata-se de uma classe de ativo trilionária, que tem a reserva de valor como um dos grandes propósitos, e que move +U$50B por ano.
O volume da ArtBlocks nos últimos 7 dias, anualizado, dá mais que 20% disso.
Uma plataforma na Ethereum, sozinha, está movendo o equivalente a um quinto do que o mercado de arte move no mundo todo. Este é o tamanho da revolução em voga.
A ArtBlocks é uma plataforma de arte generativa. Num mar de cenários 3D, rostos pixelizados e colagens baratas, a arte generativa é a modalidade que mais canaliza atenção nesse movimento de "renascença criativa on-chain”.
Em arte generativa, o artista codifica instruções estéticas, e cada peça conta com a interferência do portador no processo de mintagem (cunhagem). O resultado é uma coleção com a linguagem vislumbrada pelo artista, mas onde cada peça lhe é imprevisível, e parida em conjunto com seu portador.
A ideia não é de todo nova. As Instructions, de Sol Lewitt, nos anos 70, eram códigos escritos para que as pessoas realizassem uma instalação na parede e manifestassem uma obra a cada vez que ela fosse exposta. Muitos NFTs aludem diretamente ao trabalho de LeWitt. Por que, então, essa modalidade de expressão floresceu tão distintamente “na blockchain”?
A atenção dada a arte generativa tem a ver com a revolução conceitual em se usar a blockchain como meio. Tokens são uma evolução óbvia para representar a propriedade e verificar a legitimidade de obras de arte, mas este potencial só pode ser apreciado em sua completude se o token, em si, contiver a arte - se a peça não tiver nenhuma dependência no mundo real, ao contrário dos tokens que apontam para uma imagem hospedada em algum servidor, ou um quadro pendurado em alguma parede.
É a percepção de que este feito é possível que empolga tantos colecionadores e críticos. Nos Autoglyphs, e em tantos outros projetos que se seguiram, as instruções e resultados vivem na blockchain. A arte generativa tem uma história de mais de meio século, mas parece ter encontrado na Ethereum um meio para alcançar a imortalidade.
A ArtBlocks, sozinha, já produziu mais de 1 bilhão em valor de mercado para todas as suas peças somadas.
E este é só um dos buracos de minhoca que tem desafiado a concepção de valor dos participantes do mercado - pra não falar de games, jogos de cartas na blockchain, fantasy sports e todo o resto.
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📚 Dicas de Leitura
➡ 🔹 FTX Trilogy, Part 3: The Everything Exchange (The Generalist)
A FTX já está investindo em apostas esportivas. Os patrocínios a times de e-sports sinalizam interesse no mercado de jogos eletrônicos. Um próximo passo pode ser evoluir para se tornar uma companhia financeira full-stack (SBF já falou em comprar um banco). De repente, comprar uma companhia de rede social. Essa trilogia analisa as oportunidades da exchange de criptomoedas que cresceu mais rápido na história.
➡ 🏰 Moving Castles: Modular and Portable Multiplayer Miniverses (GVN908)
Uma metáfora organizacional e forma de mídia que combina agência coletiva e participação pública. Leia se você gosta de animação, jogos de RPG e/ou tem interesse no Metaverso.
➡ 🐛 The Rise of Generative Longform (Tyler Hobbs)
Uma ode à arte generativa. Distinguindo o período atual, que usa a blockchain como meio artístico, do legado de mais de 50 anos desse movimento.
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