🎉 Café com Satoshi #10 Especial: Quem é Satoshi 🔎👣
🎉 Chegamos à 10ª edição da Café com Satoshi. Para celebrar, temos um assunto especial.
Não vamos comentar sobre o preço do bitcoin. Nem sobre o drama em torno da maior stablecoin do mercado (Tether). Nem sobre a dissolução do núcleo da stablecoin queridinha do Vale do Silício (Dai).
O tema do e-mail é o mito fundador do Bitcoin. Esta newsletter, em particular, vai ser dedicada à figura que lhe empresta o nome.
Quem é Satoshi?
Falaremos das nuances éticas que confrontam quem explora esse mistério. Seguiremos rastros deixados na blockchain. E listaremos suspeitos-chave que podem ser ou ter sido parte de Satoshi Nakamoto.
Você já tem seu palpite?
🙏 A vontade de Satoshi
Por um lado, a história deixa bem claro que Satoshi não queria ser identificado. Ele tomou ações explicitamente para preservar sua privacidade.
Os códigos-fonte do Bitcoin são abertos para qualquer um que queira estudá-los. O criador não tem controle sobre a rede. O paradeiro dele não importa.
Por outro, o fato de que o bitcoin tem um criador desconhecido - depois de 10 anos de sobrevivência e centenas de bilhões de dólares circulados - desperta uma curiosidade inevitável. E a lenda é um atributo que difere o Bitcoin do mar de criptomoedas nascidas em seguida.
Nenhuma criptomoeda tem um mito fundador tão poderoso, uma distribuição da base monetária tão orgânica, ou um criador que tem/teve acesso a uma fortuna, e nunca encostou nela.
Pensamos que a história curiosa é um elemento que não deve ser dispensado na recepção de novos entrantes no mercado. Simplesmente, porque é uma história à qual gostaríamos de ter sido apresentados muito mais cedo.
🔎👣 Rastros de Satoshi
O fato é que Satoshi interagiu com a comunidade por anos antes de desaparecer, e deixou rastros em conversas de e-mail, fóruns, novas versões de código e transações na rede ainda embrionária do Bitcoin.
É sabido, por exemplo, que Satoshi minerou algo em torno de 1 milhão de bitcoin entre 2009 e 2010. A estimativa vem do “arqueólogo de blockchains” Sergio Lerner - a BitMex projeta 700 mil bitcoin. Estas moedas, que hoje valem bilhões de dólares, nunca foram tocadas - à exceção da primeira transação feita na história, de Satoshi para Hal Finney, e pelo menos outras 4 transações, para endereços que ficaram inativos antes mesmo de Nakamoto desaparecer.
Qualquer que sejam os números exatos, Satoshi sustentou a rede do Bitcoin praticamente sozinho durante seus primeiros meses de incepção. O gráfico abaixo compara a hashrate dele com aquela acumulada por outros mineradores, entre janeiro de 2009 e abril de 2010.
Sergio Lerner estima que haviam 25 mineradores ativos em março de 2010, pouco antes de Satoshi desligar suas máquinas. Outros apontam para um máximo de 5 mineradores simultâneos entre janeiro de 2009 e esta data.
A análise de padrões em um campo específico das transações coinbase (aquelas de mineradores tem o direito de escrever “para si mesmos”, como recompensa por ter encontrado a solução para o bloco) sugere que Satoshi desligou sua hashrate gradualmente, em 4 etapas; e também que teve a atividade abruptamente interrompida e retomada um dia depois, algumas vezes, como por exemplo em 18/07/2009.
Teriam sido estes dias de manutenção no equipamento? Férias? Mero ruído estatístico? Uma via popular de exploração tem sido comparar as pausas na atividade mineira de Satoshi com a atividade identificável de outros mineiros pioneiros.
Por exemplo, muito se fala na primeira transação de Satoshi a Hal Finney, no bloco 170, mas pouco se discute o fato de que aqueles não eram os primeiros bitcoin de Finney. Ele já havia minerado o bloco 78.
O curioso é que Hal parece ter sido o mineiro não só deste, mas da sequência de blocos 73 a 78, tendo começado a encontrar soluções justo depois de Satoshi ter desligado ou resetado suas máquinas, que vinham estampando as dezenas de blocos anteriores.
O mesmo tipo de comparação se pode praticar com a distribuição de frequência em postagens de Satoshi versus aquela de potenciais candidatos. Jameson Lopp comparou a atividade de Satoshi em fóruns com aquela de Craig Wright, por exemplo:
Satoshi era meticuloso: usou Tor; servidores de e-mail anônimos (como o gmx); nunca revelou diretamente informações pessoais; provavelmente não usava “Satoshi” como nome de usuário ou login em nenhuma outra seara.
Sabemos que usou OpenOffice.org 2.4 Writer para exportar o PDF do paper original. Na ocasião, digitava de um PC com Windows XP.
Fez uso de expressões tipicamente britânicas em seus comentários no BitcoinTalk e e-mails (e.g. “bloody hard”), embora no famoso whitepaper, “favour” (em vez de “favor”) seja o único anglicanismo notável.
Ainda no panteão de rastros notórios, tem-se a inscrição famosa no bloco gênese (vale ressaltar, retirada de um jornal inglês, o The Times). Assim como uma distribuição anormal curiosa nos produtos da atividade mineira de Satoshi, que pode vir a significar uma mensagem codificada.
💭 Possíveis Satoshi:
Não foram poucos os que tentaram dar vida ao Bitcoin. Dentre os candidatos a Satoshi, estão todos aqueles cujas ideias de alguma forma estão incorporadas na rede lançada em 2009:
Adam Back, Wei Dai, Ian Grigg, Nick Szabo, Ian Goldberg, David Chaum, Stefan Brands, Steve Schear, John Gilmore, Ryan Lackey, Ben Laurie, Jim McCoy, Bram Cohen, Paul Kocher, Zooko, Adam Shostack, Len Sassaman e muitos outros.
Há quem jure enxergar o Bitcoin nascendo nas seções de comentários do blog Enumerated, mantido por Nick Szabo - especialmente nos artigos “Nanobarter”, "BitGold" e “BitGold Markets”. Nestes, Szabo, Zooko e Jim McCoy (do Mojo Nation) discutem, basicamente, pilares do design da invenção que Nakamoto anunciaria no ano seguinte.
Jim McCoy é um candidato pouco conhecido, dotado de experiência rara no mundo dos sistemas distribuídos, e com um hiato anômalo numa carreira movimentada justo durante a incepção do bitcoin.
Nick Szabo é figura frequentemente apontada, apesar de já ter negado qualquer envolvimento direto com o pseudônimo. Vinha trabalhando a ideia de um dinheiro digital descentralizado desde 1998.
Pediu ajuda para que alguém mais técnico o ajudasse a implementar uma ideia nova, meses antes do anúncio original do Bitcoin. Dias depois da publicação do paper por Satoshi, editou a data de artigos de 2005 sobre o BitGold para que parecessem posteriores ao Bitcoin.
Szabo é o alvo predileto das análises estilográficas (que comparam estilos de escrita entre autores) já realizadas a partir do whitepaper. E também de análises textuais ainda mais minuciosas.
Há quem acredite, inclusive, que Hal Finney teria “aceitado ajudar Szabo” a implementar sua ideia, escrito o código, e Nick, o whitepaper.
Ao longo dos anos, diversos suspeitos foram alçados ao rol de possíveis Satoshi por indução de narrativas efêmeras - ou "evidências circunstanciais".
Craig Wright é um australiano famoso por clamar ser Satoshi sem nunca ter provado - além de ter oferecido incontáveis evidências forjadas. Um processo movido contra ele por parentes de Dave Kleiman, um cientista que supostamente abriu empresa para minerar bitcoin em 2011, faz com que muitos suspeitem também de Kleiman. Ele morreu em 2013, vítima de doença degenerativa.
Vale destacar que algumas das pessoas que Satoshi citou estão vivas e trabalhando. É o caso de Adam Back e David Chaum. Daí a importância de se resguardar informações que não estão em domínio público e colocar o direito à privacidade em primeiro lugar - principalmente depois do ataque midiático esdrúxulo sofrido por Dorian Nakamoto.
Este artigo lista 11 figuras que poderiam ser ou ter relação direta com Satoshi. Este infográfico ilustra 9. Quando se inclui as teorias mais deslavadas, o número de hipóteses chega perto da casa das centenas.
📚 Para se aprofundar:
1. How You Will Not Uncover Satoshi: clássico de Sergio Lerner sobre a busca pelo significado dos rastros deixados por Satoshi.
2. Desperately Seeking Satoshi: reportagem recente da BreakerMag que se lê como um thriller.
3. The Crypto Currency: artigo histórico da New Yorker, de 2011 relatando a primeira busca documentada pela identidade de Satoshi Nakamoto.
4. Satoshi's Hashrate: uma análise meticulosa da hashrate e detalhes do provável setup de mineração usado por Satoshi no 1º ano do Bitcoin.
5. 9 Infamous Bitcoin Adresses: alguns dos endereços mais famosos na curta história do Bitcoin, assim como suas curiosidades e mistérios.