☕ #79: O Que Torna Alguém de Esquerda ou Direita? ⚔️
Faça o teste e descubra sua posição no espectro político.
A polarização distorce nossa percepção do outro.
Pessoas de direita estimam que UM TERÇO das de esquerda sejam LGBT. Mas, na verdade, só 6% são (5 vezes menos).
Pessoas de esquerda acham que 44% das de direita ganham mais de R$20.000 por mês. Quando somente 2.2% ganham (20 vezes menos).
É um ciclo que se retroalimenta. Entendemos mal o outro, e julgamos-no odioso. Nos afastamos dele. Entendemos-no ainda pior. Nos afastamos mais. E assim por diante.
Já passou da hora de quebrar esse ciclo. Por onde começar?
❌ Você tá errado sobre seus “oponentes”
Cada pessoa pensa de um jeito sobre liberdade de expressão, cotas raciais, ou a guerra na Palestina.
Mas se você me disser tua opinião sobre UMA dessas coisas… eu vou conseguir adivinhar tua opinião sobre as outras.
Isso acontece porque tuas preferências políticas refletem algo mais profundo na tua personalidade.
As pessoas não pensam o suficiente sobre isso.
O problema da “câmara de eco” acontece quando nos isolamos numa bolha, e não conhecemos mais o que tá fora dela. Ele é particularmente agudo entre os segmentos “mais educados” da esquerda.
Aqueles que endossam políticas que você acha moralmente questionáveis só podem ser ignorantes ou malvados, certo?
Essa pergunta faria sentido se as “políticas públicas corretas” fossem óbvias.
Mas simplesmente não há uma abordagem “certa” sobre o aborto, a imigração, o controle de armas, alianças externas, regulação ambiental, justiça criminal e impostos.
Pessoas bem intencionadas podem, de forma honesta, chegar a diferentes conclusões sobre o que fazer a respeito de tudo isso.
📙 Metáforas pelas quais nós vivemos
Metáforas estão por todo lado, na linguagem. É quando explicamos uma coisa em função de outra.
“Tempo é dinheiro”. “Olhos são as janelas da alma”.
Cada língua tem suas metáforas, que moldam o entendimento dos seus falantes sobre certos conceitos.
O livro “Metaphors we Live By” (1980) famosamente começa com o exemplo da palavra “debate"; e da metáfora de que “um debate é uma batalha”.
Essa metáfora se manifesta em expressões como “vencer um debate”, ou “atacar os argumentos do outro”.
Agora tente imaginar uma língua em que as metáforas mais usadas pra descrever debates têm a ver com dança, e não com batalha.
É de se esperar que os falantes dessa língua, quando debatendo, enxerguem-se mais como artistas do que como guerreiros. Que busquem objetivos estéticos, relacionados à harmonia, em vez de somente “a vitória”.
Discordâncias nunca deveriam ser o ponto final de uma conversa. Mas sim o ponto de partida pra descobrir um jeito novo de ver o mundo.
Mulheres de esquerda são o segmento mais propenso a “bloquear amigos” por conta de visões políticas (nos EUA).
Da próxima vez que estiver “num debate", tente adotar um objetivo distinto, em vez de “convencer o outro lado”. Adote o objetivo de conhecer melhor o adversário, aprofundar no ponto de tensão pra descobrir exatamente em qual princípio a discordância nasce.
Quando tiver chegado nesse ponto, vocês têm duas alternativas. A primeira é massagear o tema, pra ver se no fundo não tem algo em que vocês concordam, mas estavam comunicando de forma imprecisa. A segunda é concordar em discordar.
🎯 Os círculos concêntricos da moral
A imagem abaixo ilustra os “círculos morais” do filósofo Peter Singer (2011).
O menor ali do meio é você. Depois, sua família. Depois, seus amigos próximos. Tua cidade. Teu estado. Teu país. Teu continente. Todos os seres humanos. Todas as coisas vivas na Terra. Todas as coisas vivas e inanimadas na Terra. Todas as coisas vivas e inanimadas no universo.
Faça o exercício antes de continuar lendo: até onde vai a sua consideração moral? Nessa escala, até qual número você se preocupa?
Segundo um estudo de 2019, pessoas de direita costumam estender seu “círculo moral” até o número 4 ou 5. Enquanto a média das de esquerda é ir até os números 13 e 14.
É por isso que políticos de esquerda prometem salvar o planeta; enquanto os de direita prometem salvar a tua família.
Universalismo vs. paroquialismo. Globalismo vs. nacionalismo.
Note que essas respostas são autodeclaradas. Isto é, representam o que as pessoas dizem sobre si mesmas - não o que elas verdadeiramente pensam, nem o que de fato fazem.
Também vale ressaltar que os recursos públicos são limitados. “Dispersá-los entre o mundo inteiro” significa alocar menos recursos aos “círculos morais menores”.
Acho justo presumir que todos nós desejamos “o bem comum”, no final do dia. Só discordamos sobre as formas de se chegar lá.
Às vezes o outro lado não é malévolo ou odioso. Mas enxerga o mundo de um ângulo diferente do teu.
🏹 Visão Restrita vs. Irrestrita
A Escola Austríaca popularizou entre economistas uma dicotomia que opõe uma visão de mundo “individualista” a uma visão “coletivista”. Javier Milei quase sempre usa esses termos nos seus discursos.
Thomas Sowell apresenta uma distinção com mais nuances no clássico “Um Conflito de Visões” (1987). Ele descreve 2 óticas predominantes: Visão Restrita e Irrestrita.
A Visão Restrita vê o homem como um ser imperfeito, egoísta e com limitações naturais quanto à sua bondade. Na esfera de ação política, fala em termos de incentivos e desincentivos, recompensas e punições; e não de intenções. O foco está na base da Pirâmide de Maslow. Proteger-nos de nós mesmos.
A Visão Irrestrita vê o homem como naturalmente bom, com um potencial capaz de ser “desenvolvido” indefinidamente. Na política, prioriza os processos sociais (em detrimento dos resultados), e julga os indivíduos em termos de intenções e de virtude. O foco está no topo da Pirâmide de Maslow. Mais nos frutos do que nas raízes.
A Visão Restrita é “o homem é o lobo do homem” de Hobbes. Vê nas instituições aparatos para controlar nossos impulsos ferozes. O Estado é uma autoridade à qual nos submetemos em troca de paz.
A Visão Irrestrita é a crença de Locke na capacidade do homem selvagem de se coordenar, racional e altruisticamente. Desenvolvemos o Estado como forma de fomentar nossos direitos naturais (à vida, liberdade e propriedade).
Uma vê na política a necessidade de limitar as mazelas do homem. Outra vê nela um instrumento para desenvolver o potencial cooperativo do homem.
Esse conflito de visões pode ser sumarizado como Pessimismo vs. Otimismo. Ou como Realismo vs. Utopismo - dependendo de qual for “a sua visão”.
🗣️ Você consegue conversar comigo?
Redes sociais baixaram o nível do discurso político. Estamos cada vez mais indispostos a ouvir pessoas do outro lado.
Quando atribuímos maldade, ódio ou ignorância a membros “do outro partido", na verdade isso é um reflexo da nossa própria psicologia.
Essa newsletter não advoga em favor da direita ou da esquerda. O resumo dela é o seguinte:
Veja debates políticos menos como “batalhas”, e mais como “danças”.
A maioria das pessoas deseja “o bem comum”. Só discordamos sobre as formas de se chegar lá.
Quando debater, não fuja das diferenças, nem as demonize. Aprofunde-se para ver de onde partem.
Não tente convencer o oponente de que sua visão de mundo é superior a dele. Só será possível persuadi-lo nos termos da visão de mundo dele!
Por hoje é só. Espero que vocês tenham gostado.
Cliquem nesse primeiro link abaixo pra entrar na comunidade gratuita da Paradigma e discutir essas ideias, ou sugerir um tema pra próxima edição 👇
💬 Discord: entre na sala
🐦 Twitter: @ParadigmaEdu
📸 Instagram: @paradigma.education
🎓 Curso grátis de Bitcoin: www.7DiasDeBitcoin.com.br
Excelentes considerações!