☕ #65: Quanto Vale o Ouro que Tutankâmon Enterrou Consigo?
Lições da história pra construir um patrimônio multi-geracional 👴🏻
Quando Tutankâmon morreu, 1.323 antes de Cristo, e foi enterrado em Luxor… ele fez questão de levar consigo suas joias mais valiosas.
Suponhamos que a medicina estivesse a ponto de conseguir trazê-lo de volta. Presumivelmente, o antigo rei demandaria acesso à sua fortuna.
A coleção dos seus artefatos vale, hoje, U$ 900 milhões.
Não é pouca coisa! Mas acho que Tut ficaria desapontado. Dificilmente manteria os privilégios faraônicos de outrora.
O último presidente do Egito, Hosni Mubarak, tem U$ 70 bilhões na conta. E não construiu pirâmide alguma. Tampouco liderou o país enquanto potência global.
Descobrindo a tumba de Tutankâmon: a máscara do faraó, sozinha, carrega algo como 2 milhões de dólares em ouro.
🐘 Ouro Egípcio? Marfim Russo?
Talvez Tutankâmon tenha errado no veículo que escolheu pra transportar riqueza pro pós-vida.
O ouro tem um comportamento de reversão à média no longuíssimo prazo, porque a mineração se expande ou contrai de acordo com o nível de preço. Em outras palavras: a oferta é elástica.
Mesmo assim, o metal segue carregando um prêmio monetário até hoje: pontos para o egípcio. Uma galera em Sungir, na Rússia, 30 mil anos antes, resolveu arriscar noutra “reserva de valor”.
Estes 3 homens do paleolítico foram desenterrados com 13 mil miçangas de marfim de chifre de mamute.
Eles poderiam ter ganhado a loteria dos ativos escassos: mamutes entraram em extinção; a produção de novas unidades literalmente cessou!
Mas, apesar de atender a alguns requisitos de um “bom dinheiro”, o marfim de mamute acabou não sendo adotado globalmente.
Em 2023, esqueletos de famílias inteiras de mamutes são vendidos por menos de um milhão de dólares. CEOs de startups de tecnologia compram eles pra exibir no escritório.
Imagina acordar em 2023 e pensar: “o que fazer com todas essa miçangas?”
🎎 Ou Concubinas Chinesas?
Qin Shi Huang, o primeiro imperador da China, repousa hoje no maior mausoléu subterrâneo do mundo. Reza a lenda que 48 concubinas foram enterradas junto com ele.
Estamos esticando os limites da medicina, aqui, mas, supondo que o harém inteiro pudesse ser trazido de volta à vida… Qin Shi Huang não teria muito o que celebrar.
A China moderna não trata mais mulheres como bem móveis, como fazia na dinastia Qin.
O imperador HODLOU por 2.000 anos, mas este patrimônio não mais lhe pertence.
O mausoléu do primeiro imperador, na China. Ele dizia ter se relacionado com mais de 13 mil mulheres, e ter tido mais de 2000 filhos.
🥶 Bitcoin & Criônica
Edições anteriores dessa newsletter introduziram a ideia da criônica: suspender um corpo em uma solução de nitrogênio líquido, e preservá-lo até que a medicina evolua a ponto de conseguir reabilitá-lo das condições de saúde que o afligem.
Hal Finney, o recipiente da primeira transação de Bitcoin da história, está criogenado. Ralph Merkle, um dos papas da criptografia, está na fila.
Não é surpreendente a sobreposição grande entre fãs de Bitcoin e de criônica.
Uma das inspirações mais notáveis dos Cypherpunks vinha dos Extropistas: um grupo que pregava a liberdade irrestrita e a experimentação ilimitada - com extravagante confiança no prospecto humano. Centrado numa doutrina de auto-transformação inspirada nos futuros que a computação iluminava.
Queriam transcender os limites da biologia. Transportar valor através das vidas.
Para isso, precisavam de estruturas financeiras perenes e apolíticas - capazes de carregar valor no tempo, depois que uma pessoa morresse, e até quando, eventualmente, fosse revivida.
Foi neste seio que floresceu a ideia do dinheiro eletrônico descentralizado.
Tim May, autor do Manifesto Cripto-Anarquista e pioneiro dos mercados negros de informação, considerava-se imortalista: queria investir em pesquisa biológica experimental de extensão da vida. Criar sistemas financeiros que pudessem financiar “sua própria ressurreição”, quando chegasse a hora; num futuro pós-nacional, e, quiçá, até pós-humano.
🤖 Agentes Autônomos (Literalmente)
Uma informação fácil de memorizar, que você pode carregar no cérebro pra sempre: o Bitcoin soa como veículo perfeito pra levar riqueza “dessa pra uma melhor”. Mas, por trás da concepção romântica, há uma série de obstáculos.
Spyros Dovas é um grego que pesquisa as implicações práticas das soluções de custódia “para o pós-vida”.
O principal problema deriva do fato de que, enquanto criogenado, você é basicamente um prisioneiro de quem custodia seu corpo.
Sua segurança toda fica à mercê de um contrato pelo qual você pagou há muitos anos atrás. E, presumivelmente, qualquer tecnologia capaz de restaurar satisfatoriamente sua memória também vai ser capaz de lê-la para extrair o que desejar.
Memorizar uma seed phrase nua e crua é algo naturalmente perigoso.
Bolar um esquema multiassinatura pode atrasar a vida do decodificador, mas ele também vai conseguir extrair as informações necessárias para penetrá-lo.
Implementar alguma timelock nas moedas não basta: os custodiantes podem simplesmente esperar até que ela expire pra te saquear.
Vem à tona uma ideia que aparece na ficção científica Saga de Ender. Os personagens vivem milhares de anos, e suas fortunas compuseram-se até chegar num tamanho inimaginável. Quem geriu elas foi Jane: uma assessora financeira de inteligência artificial.
Se conseguíssemos programar um robô comprovadamente leal a nossos interesses, e delegar a ele nossa supervisão, talvez desse pra evitar ter de confiar em gerações futuras de humanos falíveis. Infelizmente, ainda não chegamos lá.
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🗿 Deixando Algo Para seus Tataranetos
Moedas fiduciárias, na média, não duram mais do que 20 ou 30 anos. O próprio Bitcoin só tem 13.
Empresas raramente sobrevivem por mais do que uma geração. São pouquíssimas as instituições que perduram por várias - 5 ou 10 - gerações.
Querer transportar valor ao longo dos séculos requer um otimismo fundamental diante da capacidade humana.
Considere que a criônica propõe uma dinâmica delicada. Quem é “congelado” hoje acaba sendo preservado em melhores condições do que quem foi “congelado” há 30 anos atras; porque a tecnologia evoluiu. Então uma tecnologia “menos avançada” vai bastar pra reanimar essa pessoa, versus aquela que tá suspensa há mais tempo. O sistema não é “first-in-first-out" (FIFO), mas sim “last-in-first-out” (LIFO).
Você não só vai ter que resistir até poder ser reanimado, como também vai ter que esperar na fila, atrás de todo mundo que “se congelou” depois.
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Esta newsletter não termina com um plano perfeito, ou uma solução final. Mas com a citação de um artista brilhante - que coloca em perspectiva o tipo de riqueza que costumamos aspirar legar.
Antônio passou 43 anos construindo uma mesma igreja. Um certo repórter notou que, segundo os planos oficiais, ela não ficaria pronta antes de o criador morrer. Ele perguntou se o artista não ficava preocupado com isso.
Gaudí respondeu: “Meu cliente não tem pressa”.
🧠 Dicas de Leitura
🔭 Copérnico e os Males da Inflação (J. Taylor)
Uma leitura curta em que o cientista, há 500 anos atrás, defende o “dinheiro sólido”.
☄️ My Plan for Hyperbitcoinization (Elaine Ou)
Nossa autora bitcoiner favorita pondera sobre “como levar riqueza pro futuro”.
👼 Ensuring Your Second Life With Bitcoin (Jameson Lopp)
Considerações práticas do CTO da Casa sobre como guardar moedas ao longo de gerações.